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Tuesday 18 March 2008

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A noite em São Paulo. Tudo se renovando e tudo como sempre. Observei da sacada com o amigo que estou gostando muito. Café com conhaque. Só faço isso lá. Uma página de um livro e um deja vu. Quase nunca acontece. Esqueci de comentar com ele. Um deja vu daqueles que a gente quer até escrever um roteiro de filme só pra incluir a cena. Falando de coisas banais com certa devoção. Nenhum embaraço. Alice fica à vontade. Não me recordo direito, mas eu me parecia com filmes iranianos? Não me lembro. Queria lembrar. Ultimamente as pessoas que gosto tem-me feito comparações. Miss Sunshine. Em pleno outono e inverno. Grata, mas espera, então, se isso (de repente) está virado pra fora, pra dentro sobrou o que? Quem eu sou vista de fora? Uma estranha. Agora vejo o ponteiro do mouse mexer sozinho até quando estou em casa. Agora me lembro das pernas despidas, numa festa com moças que cobrem pernas com finas meias. Brancas. E eu sempre à mostra. Sem meias. Ou com metade das meias. Até pouco abaixo dos joelhos. Um blog com cara de linha puxada. Tenho cigarros, mas não tenho isqueiro, o que é pior que não ter cigarros. Não aborreci-me com o comentário daquele estranho. Ele coçando sua barba olhando pra mim. Fale. Fale. Não falei. Corei e não falei. Só cuidei pra não largar nada enquanto tudo não ficasse arrumado. Sou uma menina caprichosa. Disso, o estranho sabe. Ele fica olhando, vê minha memória e minha pouca habilidade com os cacos de vidro. Vou sonhar com isso. Vai mesmo. Mas eu não respondo. Agora nem coro. Agora eu não ligo. Meu respeito pela humanidade voltando. Ele enrolando uma mecha do próprio cabelo enquanto fala. Fila de livros. (Não esse tenso torcer de mãos... esse teto escuro e sem estrela).
Inclusive, conheci o Carlaccio ontem do nada, enquanto tomava uma cerveja num quase-boteco. Li seu Um Drink no Bunker no fundo da H. Conheci a Lu (Lu por pura intimidade, adquirida já nos tempos de trocas de e-mails cheios de substâncias existenciais, furadas e sérias). Ela tinha escrito um conto sobre uma garota que amou tanto que perdeu a própria dignidade. Ela sim, a Lu, é um verdadeiro raio.
Pela primeira vez, acordei de manhã e me vi: Esse negócio de ser a gente mesmo incomoda. Mentira. Eu nunca mais vou sentir um cheiro de manhã e não lembrar de quando eu me sentei ali. Faz frio na noite de São Paulo.
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