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Tuesday 18 March 2008

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Fazia um tempo, o sol não saía mais, ele estava ali, claro, queimando minha cara e queimando minhas costas cansadas, mas eu não sentia. Eu fiquei ali com as placas, um monte de feministas gritando “eu sou mulher, sou feminista!” e tocando Elis, Rita, Duncan, Caetano, essa gente que fez letras assim pra tocar em passeata, e eu ali com as placas, meio querendo ir embora, meio querendo dar um grito, meio querendo mandar passearem os moleques que não gostavam de sol e pinga quente.. Comprei toalhas novas pra mesa, fiquei com a veia inchada, está verde, me assusto quando olho e por isso não olho, esperei pra dizer pra ele que não tem jeito, é ele mesmo, logo ele, não tem jeito. Ele chegou tarde, chegou hoje, com seus lábios, dedos e línguas, com sua pilha de manias e esparramou tudo ali no meu sofá e usou os meus óculos pra ler coisas que eu não queria que ele lesse, eu pensei, ai é ele, é ele, é ele, droga, mas que droga, não era pra acontecer. Aconteceu. Agora ficou tudo pra limpar, perfume, porra, cinza, lixo, os lixos da gente que a gente não quer, que não dá pra conviver, ficou tudo ali e está tudo sumindo. É o que sobra, um monte de lixo. Virou um monte de lixo.
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