Pages

Wednesday 23 January 2008


Bonito ele explicando por que as pessoas vão embora enquanto eu choro e quebro as coisas. Ele disse que eu tenho que me controlar mais e correr mais e fumar menos e afinar meu violão, e que ele não reconheceu aquela música que eu toquei da última vez.
Ele disse que eu era mais bonita antes do trabalho acabar comigo e ele não entende que a gente faz certas coisas só pra fugir e ele não entende que existam pessoas moles. Eu expliquei pra ele que eu sou mole, que eu danço sozinha no meio da sala e que os vizinhos não gostam de mim. Mas ele fez silêncio eu não sei por que, de repente ele não entendeu nada, de repente ele sentiu vergonha.
Eu fiz uma pasta com poemas de fim de noite, ele recitou alguma coisa comigo e guardou em baixo da cama; as vezes eu cito versos e ele não lembra, e por isso nem sente culpa.
Eu escrevo frases soltas nos guardanapos e enfio tudo nos bolsos dele, mas ele não mexe nos bolsos e lava tudo junto com as calças na máquina e reclama por que todos os bolsos dele ficam manchados de tinta de caneta. Eu bebo enquanto ele observa. Eu torço enquanto ele reza. Eu usei saias por que ele disse que gosta de olhar minhas pernas. Ele ficou com ciúmes, quebrou um copo, bateu num cara e foi embora sozinho.
Eu disse pra ele que chorava diante de coisas muito bonitas, eu dizia que coisas completas eram coisas bonitas, e ele nunca entendeu por que eu cobria o rosto quando fazíamos amor no meio da sala. Ele beijava minhas mãos e torcia pra que eu disse alguma palavra.
Um dia ele me deixou dizendo que eu tinha muita tendência a não acreditar nas coisas.
Mas eu acreditava nele ali deitado no sofá com um cigarro comido entre os dedos, entorpecido de vinho e sono falando que não podia esquecer de comprar novas gravatas, pegando no sono até às sete da manhã.