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Thursday 3 January 2008


12:42.
Primeira madrugada do ano. Nada diferente. Cada pessoa amada num canto. A gente acaba passando a virada com quem a gente menos espera. Pelo menos dessa vez, é uma amiga que eu amo muito. Ela ta lá fora meio bêbada chorando ao telefone. Ela também tem um amor, e o amor dela também tá longe, mas pelo menos o amor dela está logo ali ao telefone (mas ela ainda não entendeu isso). Talvez esteja dizendo que ela não precisa chorar mesmo sabendo que ela vai continuar chorando mesmo assim e que ela não devia beber tanto. O meu eu não sei onde está. Está longe. É o que eu sei. Não quero nem saber mais que isso.
É o primeiro dia do ano e as coisas tem que ser boas.
No mundo inteiro é. Pelo menos na maior parte dele.
Agora tem que fazer a primeira corrida do ano atrás de cigarro. Dois maços vazios em cima do colchão. Um meu, outro dela. Meu macarrão acabou sendo a “ceia”, mas está tudo melhor do que podia estar. Pensei que eu ia ver a virada do ano de cama. Não tem ceia e não tem festa por que eu acabei melhorando da minha doença antes do esperado. Aí eu estava fodida por que não tinha comida, não tinha planos e não tinha tempo. Mas sempre sobra alguém tão fodido quanto a gente. Ano passado foi a Mi, a gente se achou no Natal. No Ano Novo eu tava lá na praia perdida com o Rafa, mó chuva, alguma coisa que só os finais de ano tem (sempre a partir dos fogos) e que está pairando aqui agora.
Hoje voltei a fumar. É, eu tava tentando parar, e quase me levei a sério por um dia ou dois. Mas hoje, primeiro dia do ano, eu voltei. Fiquei triste. Primeira meta não alcançada. Mas voltei por que não dava pra passar por aquilo sem um cigarro.
E o primeiro cd tocado do ano foi o do L7, por que o de antes tava riscado, e eu não queria ouvir os fogos. Fui na varanda, gritei pra pararem. Não pararam, claro. Precisava de um barulho mais forte. E que alguém achasse que aqui tinham umas 15 pessoas felizes. Mas tinha eu e a H. Só a gente com as nossas dores meio parecidas. Só que ela tem um telefone. Eu tenho uma veiazinha pulsando no peito que ainda se emociona quando eu penso nele. Mas eu não posso beber por causa dos meus remédios, então eu estou sóbria no primeiro dia do ano e isso pode até querer dizer qualquer coisa. Talvez não.
Mas eu voltei pra casa, fiquei dias intermináveis fora, quase morrendo de dor, literalmente, eu tava doente. Acho que aprendi a gostar da minha casa. É o melhor lugar pra eu estar agora. Eu e a minha veiazinha. A gente fica aqui esperando e vendo entre a gente o que é que a gente vai fazer afinal de contas. Ta na hora. Devia estar.
Agora os fogos cessaram. A H. ainda ta triste, chorando e no telefone. Eu to triste, sóbria e escrevendo.
Eu sei que as pessoas que eu amo estão felizes. E eu sei que um monte de gente lembrou de mim meia-noite, assim como eu me lembrei delas. Eu só não sei dele, se ele cumpriu, se ele lembrou mesmo de mim. Eu queria que sim. Eu cumpri. Mesmo sem reparar, mas pois é, eu cumpri. Eu cumpro promessas.
Eu só lamento por uma pessoa, que agora deve estar tendo a pior entrada do ano do mundo e a culpa é minha. Eu não queria, mas eu não pude fazer nada. Ele tem olhos sinceros e que nos fazem entender o que ele diz, e eu entendi. E eu entendi tanto que eu acabei fodendo com ele sem querer. Queria não ter entendido. Queria que ele ficasse bem e que parasse de ficar sem dormir.
Amanhã vai estar todo mundo aqui. Todo mundo que eu amo. Quase. Falta a minha mãe, falta ele e falta a Re. Mas tem um monte de cerveja que eu não posso tomar por conta dos remédios, tem um monte de carne, tem churrasqueira e tem uma porrada de comida que essa casa não teve nunca em toda sua curta história. Então chegarão pessoas amadas e ficarei admirando elas e curtindo elas. Pulando em todo mundo, afastando os copos da mesa dos cotovelos alheios. Vai ficar tudo bem. Hoje é só a madrugada. É onde eu me encaixo, é onde eu me escondo, mas o dia vai ser bom. O meu e o da H.