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Sunday 6 July 2008

O nada mora em São Paulo

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São Paulo continua fria e vazia. Mesmo com a Paulista ali do lado. Mesmo com as garrafas da geladeira e o maço que milagrosamente, ainda está na metade. Mesmo com as minhas amigas lindas e com vocação pra vida. Eu não tenho muita. Eu fico aqui meio encolhida tendo umas ideias. Tanta coisa pra resolver e eu aqui com essas ideias e essa chuva, morrendo de frio, com a minha insônia. São cinco da manhã e eu ainda nem arrumei a cama. A louça está na pia com os restos da minha última receita. A rádio fica tocando essas músicas que lembram aquele sorriso insano, de quem acabou de ganhar a guerra e não pode deixar o mundo saber. Aí fico bêbada dando vexame. Enquanto a mão passava pelo meu cabelo e eu sentia ele macio encostando no meu rosto. É foda. Estou ficando doente de novo. Preciso dos meus remédios black target e ocupar meu tempo e ganhar dinheiro e esquecer os olhos nas minhas pernas.
São Paulo tá pequena pra mim. Em São Paulo só existe a minha casa e as minhas cobertas. Lá fora tem um monte de gente louca achando que tudo é foda demais. É nada. Cidadezinha de merda. Pro inferno com a Paulista, com o Bexiga, com o Teatro Municipal, com a Pinacoteca, com o Túnel do Tempo com aquela vitrolinha velha e aquela caipirinha cara, a Roosevelt e as estações de metrô. É tudo entediante. São entediantes as putas da Augusta e os literatos da Vila Madalena. Ah, deus, é tudo um verdadeiro saco. Eu não quero ficar velha aqui.
Eu quero ficar velha com um minha caneca de café e ele me abraçando enquanto o mundo acontece lá fora.
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