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Monday 28 January 2008

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Eu sempre coloco a minha carroça na frente dos bois, aí os bois empurram a carroça com a cabeça, e quem está na frente da carroça? Eu, claro, que acabo toda esmagada, pela carroça e pelos bois, no meio da rua passando o maior aperto pensando “mas caralho, eu sabia, eu sabia”.
No fundo todo mundo tem esperança de ser feliz, né? Que o trabalho dê certo, de não morrer um João ninguém, de não ficar pra tia, de não morrer de infarto, de ter sempre em quem confiar, de não ser engolido por algum buraco negro no caminho, esperança de chegar , etc.
Tem coisas que são feitas pra durar. Outras não. Eu olhei no olho dele ontem e vi vai durar muito. Ele riu de mim por que viu que eu fiquei completamente desolada. Eu ri de volta, por que foi engraçado mesmo. Fico pensado por que só comigo meu deus, mas todo mundo deve pensar isso umas cem vezes por dia, pelo menos eu acho e no fundo torço pra que sim. Pra mim é importante até sentar na mesa do bar e ficar escutando as conversas malucas dos amigos sobre todo tipo de coisa, todas absolutamente verdadeiras e memoráveis, eu tenho mania de achar tudo muito sério. Pois bem, então eu vou ver o que eu posso fazer, cada um que dê seus pulos, me ensinaram. Eu aprendo lições muito bem.

Wednesday 23 January 2008

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Karinamovich é uma menina que anda sem sorte, sem tempo, vara madrugadas (dorme às 6:00 am) e acorda de tarde para o péssimo trabalho que possui, trabalho qual a desgasta, a humilha e não mais a diverte, nem de vez em quando.
Tenta escrever com o senso de humor que há dentro dela mas não consegue e pára no meio.
Sente que precisa parar de agir como se não fosse uma pessoa envergonhada de ser como é e fazer o que faz.
Sente-se culpada por não conseguir manter relações e convencer pessoas. Também por não escrever seus textos dentro do prazo.
Começa de novo da estaca zero, toma cuidado ao manusear freios e não usa mais relógio de pulso, além de medir suas palavras e seu tom de voz mesmo encontrando dificuldades.
Ainda sente arrepios com toques e proximidades e certas intimidades e fica paralisada diante das expectativas.
Tenta perder a mania de franzir os olhos e tenta endireitar os ombros e carregar menos peso, além de tomar uma postura mais ativa que passiva diante da vida e sofre por não ter decorado a frente de sua casa com luzinhas de Natal, onde nem comeu um pedaço de panetone à meia noite.
Toma antibióticos fortes pois quase morreu após tomar uma chuvinha de madrugada e beber mais do que devia por durante quase duas semanas, perde canetas todos os dias e só se sente feliz as vezes, além de ter virado uma pessoa altamente tolerante em vista do que ela era antigamente.
Vibra com valsinhas e blues, odeia propagandas de energéticos e come coisas industrializadas mesmo que tenha medo de intoxicação, infarto e diabetes.
Tem esperanças de se encontrar e parar de apenas encontrar as pessoas sozinha.
No fundo é boa garota, tem alma boa e não quer atrapalhar ninguém, acredita em respeito, assim como em solidão bem controlada e de dentro, e fica furiosa com quem não sabe quando parar, embora ela não tenha a receita.
E pode ser que amanhã ela não seja mais nada disso.
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(Assistindo um especial do Ivan Lins na tv)
Michele, levantando do sofá, puta, e indo em direção ao quarto:

“EU ODEIO MÚSICA BOA!”.

Bonito ele explicando por que as pessoas vão embora enquanto eu choro e quebro as coisas. Ele disse que eu tenho que me controlar mais e correr mais e fumar menos e afinar meu violão, e que ele não reconheceu aquela música que eu toquei da última vez.
Ele disse que eu era mais bonita antes do trabalho acabar comigo e ele não entende que a gente faz certas coisas só pra fugir e ele não entende que existam pessoas moles. Eu expliquei pra ele que eu sou mole, que eu danço sozinha no meio da sala e que os vizinhos não gostam de mim. Mas ele fez silêncio eu não sei por que, de repente ele não entendeu nada, de repente ele sentiu vergonha.
Eu fiz uma pasta com poemas de fim de noite, ele recitou alguma coisa comigo e guardou em baixo da cama; as vezes eu cito versos e ele não lembra, e por isso nem sente culpa.
Eu escrevo frases soltas nos guardanapos e enfio tudo nos bolsos dele, mas ele não mexe nos bolsos e lava tudo junto com as calças na máquina e reclama por que todos os bolsos dele ficam manchados de tinta de caneta. Eu bebo enquanto ele observa. Eu torço enquanto ele reza. Eu usei saias por que ele disse que gosta de olhar minhas pernas. Ele ficou com ciúmes, quebrou um copo, bateu num cara e foi embora sozinho.
Eu disse pra ele que chorava diante de coisas muito bonitas, eu dizia que coisas completas eram coisas bonitas, e ele nunca entendeu por que eu cobria o rosto quando fazíamos amor no meio da sala. Ele beijava minhas mãos e torcia pra que eu disse alguma palavra.
Um dia ele me deixou dizendo que eu tinha muita tendência a não acreditar nas coisas.
Mas eu acreditava nele ali deitado no sofá com um cigarro comido entre os dedos, entorpecido de vinho e sono falando que não podia esquecer de comprar novas gravatas, pegando no sono até às sete da manhã.

Thursday 3 January 2008


12:42.
Primeira madrugada do ano. Nada diferente. Cada pessoa amada num canto. A gente acaba passando a virada com quem a gente menos espera. Pelo menos dessa vez, é uma amiga que eu amo muito. Ela ta lá fora meio bêbada chorando ao telefone. Ela também tem um amor, e o amor dela também tá longe, mas pelo menos o amor dela está logo ali ao telefone (mas ela ainda não entendeu isso). Talvez esteja dizendo que ela não precisa chorar mesmo sabendo que ela vai continuar chorando mesmo assim e que ela não devia beber tanto. O meu eu não sei onde está. Está longe. É o que eu sei. Não quero nem saber mais que isso.
É o primeiro dia do ano e as coisas tem que ser boas.
No mundo inteiro é. Pelo menos na maior parte dele.
Agora tem que fazer a primeira corrida do ano atrás de cigarro. Dois maços vazios em cima do colchão. Um meu, outro dela. Meu macarrão acabou sendo a “ceia”, mas está tudo melhor do que podia estar. Pensei que eu ia ver a virada do ano de cama. Não tem ceia e não tem festa por que eu acabei melhorando da minha doença antes do esperado. Aí eu estava fodida por que não tinha comida, não tinha planos e não tinha tempo. Mas sempre sobra alguém tão fodido quanto a gente. Ano passado foi a Mi, a gente se achou no Natal. No Ano Novo eu tava lá na praia perdida com o Rafa, mó chuva, alguma coisa que só os finais de ano tem (sempre a partir dos fogos) e que está pairando aqui agora.
Hoje voltei a fumar. É, eu tava tentando parar, e quase me levei a sério por um dia ou dois. Mas hoje, primeiro dia do ano, eu voltei. Fiquei triste. Primeira meta não alcançada. Mas voltei por que não dava pra passar por aquilo sem um cigarro.
E o primeiro cd tocado do ano foi o do L7, por que o de antes tava riscado, e eu não queria ouvir os fogos. Fui na varanda, gritei pra pararem. Não pararam, claro. Precisava de um barulho mais forte. E que alguém achasse que aqui tinham umas 15 pessoas felizes. Mas tinha eu e a H. Só a gente com as nossas dores meio parecidas. Só que ela tem um telefone. Eu tenho uma veiazinha pulsando no peito que ainda se emociona quando eu penso nele. Mas eu não posso beber por causa dos meus remédios, então eu estou sóbria no primeiro dia do ano e isso pode até querer dizer qualquer coisa. Talvez não.
Mas eu voltei pra casa, fiquei dias intermináveis fora, quase morrendo de dor, literalmente, eu tava doente. Acho que aprendi a gostar da minha casa. É o melhor lugar pra eu estar agora. Eu e a minha veiazinha. A gente fica aqui esperando e vendo entre a gente o que é que a gente vai fazer afinal de contas. Ta na hora. Devia estar.
Agora os fogos cessaram. A H. ainda ta triste, chorando e no telefone. Eu to triste, sóbria e escrevendo.
Eu sei que as pessoas que eu amo estão felizes. E eu sei que um monte de gente lembrou de mim meia-noite, assim como eu me lembrei delas. Eu só não sei dele, se ele cumpriu, se ele lembrou mesmo de mim. Eu queria que sim. Eu cumpri. Mesmo sem reparar, mas pois é, eu cumpri. Eu cumpro promessas.
Eu só lamento por uma pessoa, que agora deve estar tendo a pior entrada do ano do mundo e a culpa é minha. Eu não queria, mas eu não pude fazer nada. Ele tem olhos sinceros e que nos fazem entender o que ele diz, e eu entendi. E eu entendi tanto que eu acabei fodendo com ele sem querer. Queria não ter entendido. Queria que ele ficasse bem e que parasse de ficar sem dormir.
Amanhã vai estar todo mundo aqui. Todo mundo que eu amo. Quase. Falta a minha mãe, falta ele e falta a Re. Mas tem um monte de cerveja que eu não posso tomar por conta dos remédios, tem um monte de carne, tem churrasqueira e tem uma porrada de comida que essa casa não teve nunca em toda sua curta história. Então chegarão pessoas amadas e ficarei admirando elas e curtindo elas. Pulando em todo mundo, afastando os copos da mesa dos cotovelos alheios. Vai ficar tudo bem. Hoje é só a madrugada. É onde eu me encaixo, é onde eu me escondo, mas o dia vai ser bom. O meu e o da H.